PRÉMIO LITERÁRIO DE PROSA E POESIA FSB
1º Prémio
A outra margem - José Costa
Santander
O meu país anda com um rio à cintura
Que lhe molda o saio de madrigais ataviado
Galgou a lezíria em urgências de aventura
E foi mar dentro com as naus de braço dado
Por ele as ninfas aos vates acudiram
Nadou Calíope e os deuses capricharam
As barcas d’África há muito que partiram
Mas no Restelo os velhos continuaram
P’ra fazer aguada maus cruzados arribaram
Aos quais El-Rei gesto e espada contratou
Puseram cerco à flor mourisca e a ultrajaram
E em lágrimas lavado o rio amante chorou
Era pelas ondas que EL-Rei queria um caminho
E dos seus capitães só o Gama se aprestou
Mas das pimentas e do celebrado cravinho
Magro proveito a arraia miúda tirou
Vícios vãs-glórias egoísmos mordomias
Plenas as naus em constante corropio
Do cais subia doce odor a especiarias
Que recendia de pé de Alfama ao Rossio
Em São Mamede da doméstica pendência
Brotou a haste onde uma pátria floriu
Mas a gema que lhe garantiu a existência
Foi Cabral que na outra margem a descobriu
Façanha egrégia quiçá a mais importante
Das glórias que a expansão conheceu
Engasto na coroa o portentoso diamante
Ao grande escol o reino se promoveu
E era El-Rei da janela olhando o rio
Óculo em riste os quintos d’oiro aguardava
Mal despontava entre as brumas o navio
Logo no paço se cantava e se bailava
Espantou-se o rio ao cravar-se o tal tridente
Por Neptuno em hora infausta arremessado
E a terra incerta em tremedeira persistente
Abriu-se ao mar que irrompeu descabreado
Pilares paredes igrejas belos vitrais
Tudo por terra derruiu e se abateu
Pífios heróis tombaram dos pedestais
A velha ordem contudo permaneceu
Rio abaixo se foi o nosso sexto João
A plantar uma palmeira no Brasil
A mãe louca seguiu na expedição
E a corte em peso numa agitação febril
O meu país anda com um rio à cintura
Que lhe molda o saio de madrigais ataviado
Levou lá p'ra bem longe a ignóbil criatura
E cravos madrugaram no jardim amordaçado
2º Prémio
Poesia do meu país- Susana Fernandes
Santander
Pensei em escrever uns versos de uma poesia
Para isso fui ver o mar e cheirar a maresia.
Praias com paisagens pintadas a aguarelas
Contornam metade do nosso pequeno país
Do Algarve com sol, marisco e cores belas
Perdi-me nas ondas azuis onde fui tão feliz
Pensei em escrever uns versos de um poema
Para isso fui ver o campo e procurar um tema.
Subi pelo Alentejo, zona árida e muito plana
Comi uma açorda com poejos e uma sericaia
Vi sobreiros, pastos, gente boa e a porcelana
Perdi-me nas planícies sem nada que distraia
Pensei em escrever uns versos de uma rima
Para isso fui ver as cidades e subi mais acima.
Laivos de história em todos os cantos e ruelas
Entrei em Lisboa das sete colinas a capital
Avistei o rio Tejo das velhas e tristes janelas
Perdi-me nos pastéis de nata e no fado fatal
Pensei em escrever uns versos como artista
Para isso fui ver museus e monumentos da lista.
Visitei o Panteão, zona importante da cidade
Passei pelos Jerónimos e também pelo Padrão
No Guincho em Cascais, senti vento e liberdade
Em Sintra no auge da serra bateu forte o coração
Pensei escrever uns versos mas não sou poeta
Para isso fui ao Porto para tentar passar a meta.
Muitas pontes e vinhas semeadas pelo Douro
Caves velhas e castas nobres de vinho do Porto
Da ribeira, ao mercado do Bolhão e miradouro
Tanta história, cheiros, lugares que dão conforto
Pensei em escrever linhas de uma prosa
Para isso fui ver a zona Norte tão formosa.
Zonas tão verdes, acidentadas com riachos
Bom arroz de cabidela e posta à Mirandesa
Santuários, castros, comida farta nos tachos
Gente simples e orgulhosamente portuguesa
Pensei em escrever uns versos de uma poesia
Para isso fui ver o meu país e ficou a nostalgia…
Menção Honrosa
Que querem mais de ti? - Abel França
novobanco
Portugal.
Sim, começo por chamar-te pelo teu nome próprio.
Terra de encantos sem fim.
Sabes? Às vezes, fico desconcertado contigo,
com as tuas gentes, lindas, sim,
mas, também por vezes, um pouco…
Como dizer?
Sabes? Tu dás-nos tanto! A sério.
Tivemos Reis e Rainhas (até uma Santa Isabel de Portugal)
A tua Padroeira até é Imaculada (Conceição)!
Tivemos um Papa (João XXI).
Temos Fátima, onde Nossa Senhora apareceu a três pastorinhos
Tivemos Eusébio (sim, uma pantera!), um galáctico (CR7) e outros génios da bola
Tivemos Amália, que tão bem encanta o nosso Fado
e trata a Saudade por tu
Sim, essa palavra (Saudade) que o Mundo não tem igual
Sabes? Como é bom termos Fátima, Futebol e Fado, assim todos juntinhos
à beira mar
Sim, nesse Atlântico que te beija tão bem
E que tu agarras de forma tão intensa com a areia das tuas praias
Verdadeiros tesouros de Deus.
E alguns que ainda pedem mais de ti…
Sabes que temos uma rica História?
E muito por onde nos orgulharmos de ti.
Já demos a volta ao Mundo, com Magalhães
Tivemos o Vasco da Gama, e outros que desbravaram ondas além-mar
Já demos ao Mundo o Egas, o Saramago. Dois Nobel!
Sim. Já nos aplaudiram, de pé, em grandes e bem engalanados salões
por esse Mundo fora
Temos Camões, Pessoa, Sophia, que tão bem trataram a tua Língua.
Sim, esse Português que ressoa em qualquer cantinho inesperado, por aí
pois existe sempre um lusitano em qualquer recanto que visitamos!
Temos os Jerónimos, Mafra, e até gravuras milenares
Temos as levadas da Madeira
As deslumbrantes lagoas dos Açores
Um maravilhoso areal dourado no Porto Santo
Uma paisagem branca, como a neve, na belíssima Serra da Estrela
Temos Sintra, temos o nosso berço bem marcado nessa fantástica Guimarães
E Lisboa? Sim, essa cidade de uma beleza sem fim.
E como é belo, também, o Porto!
E tantas outras cidades cheias de encanto
como Coimbra, Braga, Funchal
e tantas outras!
Que pedem mais de ti?
E que dizer da tua comida?
Do teu saboroso peixe,
Da suculenta carne, tratada em verdes pastos açorianos,
Dos teus fantásticos vinhos Madeira e do Porto
e todos os outros com que fazes deleitar o nosso paladar.
Sabes? Ao ver tudo o que tu nos dás, apenas me apetece contemplar o mar
E dizer, suavemente, mesmo que seja apenas para o meu coração: obrigado, Portugal!